corridas-de-rua

Correr é o novo MBA

Em 2008, com 40 anos, incentivada pelo meu irmão, comecei a praticar corridas de rua e em 2009 me desafiei na Meia Maratona do Rio de Janeiro. Eu, recém-afastada do sedentarismo, ex tabagista havia 8 anos, tendo fumado 2 maços de Hollywood por dia durante 17 anos, pretendia correr 21 km ou 21.097 metros.

Sem contar toda a dedicação, disciplina e planejamento para cumprir o período de treinamento, quando qualquer deslize nos treinos é uma traição a você mesmo, tem o dia da prova: o primeiro desafio foi esvaziar a mente para garantir uma boa noite de sono e chegar com energia à largada. Ali, 17.000 participantes pretendiam sair de São Conrado e alcançar o aterro do Flamengo.

No meu caso, após 2h36m06s cruzei a linha de chegada. Eu tinha uma meta que superou a emoção dos aplausos da comunidade do Vidigal, a euforia de ver a praia do Leblon se abrindo ao final da descida da Avenida Niemeyer. A ansiedade do primeiro ponto de hidratação e resistir bravamente ao impulso de me afogar em copos d’água.

Tive que acomodar as passadas ao ritmo dos pedestres que deixavam a missa em Ipanema e desejavam atravessar a rua, ignorando meu esforço e alguns até me julgando, como se a minha corrida fosse um grande incômodo. Já em Copacabana eu tinha uma dor no joelho, sentia um calor avassalador e uma ansiedade enorme de terminar tudo logo, mas sabia que se não respeitasse o ritmo treinado, colocaria tudo a perder. E aquela praia. Um convite para abandonar tudo e… “correr pra galera”.

A cada placa outro quilômetro ficava para trás e eu mais perto da minha meta. Muita cansada e sempre esvaziando a mente para que não deixasse o meu corpo desistir. Perto do Km 16, a 5 da chegada, eu nunca vou me esquecer… Uma menina com seus 7 ou 8 anos gritou: “Vai Sara! Você consegue.” E jogou um sorriso lindo pra mim. Nas provas internacionais isso é muito comum, mas aquela era minha primeira experiência em longa distância. Bom… aquele sorriso me empurrou para a chegada.

Quando eu cruzei o pórtico, olhei para o lado e vi uma corredora com a mesma camiseta da minha equipe de corrida. Abraçamo-nos e celebramos a nossa conquista. Ali nasceu uma grande amizade. Completado meu desafio, quando voltei para casa comentei com o irmão: “Você precisa fazer isso.”
Para mim foi muito mais que qualquer curso de formação ou especialização, foi uma escola de vida. Um catalisador de inteligência emocional e planejamento de vida. E venho repetindo isso desde então.

Em 2018, Nizan Guanaes intitulou uma de suas colunas na Folha de S. Paulo: “Correr é o novo MBA”. É, sim, Nizan. Planejar um treinamento, gerenciar o turbilhão de eventos e emoções que envolvem um desafio de endurance é certamente um MBA… para a vida.

Add a Comment

Your email address will not be published. Required fields are marked *